MAV Cerebral e a chegada da tecnologia tridimensional no Brasil

As malformações arteriovenosas cerebrais (MAVs) são conexões anormais entre as artérias e as veias, levando ao desvio arteriovenoso com uma rede interposta de vasos – o chamado nidus. Aproximadamente metade dos pacientes com MAV cerebral apresenta hemorragia intracraniana, resultando em uma taxa de hemorragia de 0,55 por 100.000 pessoas-ano. Confira abaixo o texto feito pelo neurocirurgião Dr. Renato Campos e a MSc. Camila Cardador, comentando sobre um caso exclusivo e inovador:

O que é a MAV?

“A malformação arteriovenosa (MAV) cerebral é uma doença congênita da comunicação entre as artérias e veias cerebrais onde temos um novelo de vasos sanguíneos malformados e frágeis, fato que pode acarretar sangramento e consequentes lesões cerebrais, inclusive com risco de morte. As opções de tratamento são cirurgia, embolização e radiocirurgia. Nesta última modalidade, através da radiação, induz-se o fechamento dos vasos malformados e consequente resolução da MAV”.

A maioria das lesões apresenta hemorragia cerebral; as frequências relatadas variam de 30 a 82% em pacientes. O objetivo do tratamento da MAV é a prevenção da hemorragia. Entretanto, o controle de crises ou a estabilização de déficits neurológicos progressivos são ocasionalmente objetivos de tratamento, e as decisões terapêuticas para as malformações arteriovenosas cerebrais (MAVs) são comumente baseadas em estimativas de risco de curso natural pesadas em relação a dados de resultados de intervenção invasiva. 

Radiocirurgia

“A radiocirurgia de MAV cerebral é um procedimento complexo, principalmente pela irregularidade da malformação, o que acaba gerando uma grande dificuldade na definição da lesão a ser tratada. A literatura médica mostra que o erro do alvo, ou seja, a delineação imprecisa da região a ser tratada, é a maior causa do insucesso da radiocirurgia de MAV”.

A radiocirurgia pode ser eficaz para malformações menores que 3,5 cm, mas a completa obliteração requer aproximadamente de 1 a 3 anos após o tratamento e a cura nem sempre é alcançada. Mesmo assim, a radiocirurgia foi associada a uma baixa letalidade, mesmo à custa de uma baixa taxa de obliteração.

A irradiação parcial de volume é reconhecida como uma importante causa de falha da obliteração. A não-obliteração da MAV tratada por radiocirurgia pode ser explicada em 76% dos casos devido à irradiação parcial, o que acontece por causa da definição imprecisa do nidus ou foi causada pela localização do nidus em uma região funcional ou adjacente a estruturas críticas. Além disso, a irradiação de volume parcial também foi relacionada com uma maior incidência de hemorragia após a radiocirurgia.

Angiografia

“Como regra, para o desenho da lesão, utiliza-se a ressonância magnética, tomografia computadorizada e angiografia cerebral realizada no dia do tratamento. A angiografia nos dá uma imagem bidimensional, o que exige uma enorme capacidade de abstração do médico neuro-radiocirurgião, dessa forma a ideia original da utilização do molde 3D surgiu a partir do benefício que o neurocirurgião obtém com a visualização espacial da lesão, porque o cérebro humano entende mais facilmente quando trabalha em três dimensões”.

A angiografia ainda é o padrão de referência para o diagnóstico e determinação da caracterização anatômica das MAVs. Em muitos casos, é o único meio disponível para fazer uma distinção entre o nidus e a vasculatura normal circundante. No entanto, como um procedimento bidimensional, às vezes é difícil, ou mesmo impossível, conformar o volume de tratamento à configuração 3D do nidus, especialmente para a forma côncava e irregular da MAV.

Solução 3D (biomodelo)

“Dessa forma, decidimos inovar utilizando pela primeira vez uma angiotomografia computadorizada dos vasos cerebrais para criação de um modelo 3D. No mundo, essa técnica é citada uma única vez por um grupo italiano, mas com a fonte de imagem sendo de uma angiografia, assim nossa abordagem é pioneira tanto na utilização da angiotomografia quanto na ideia de utilizarmos cores distintas para diferenciarmos os vasos cerebrais e a área previamente embolizada. Com a utilização da impressão 3D obtivemos melhora significativa na definição espacial, o que acarretou uma diminuição de cerca de 20% no volume original sem o modelo 3D”.

  

A visualização tridimensional da MAV é o ideal, especialmente porque o cérebro humano está mais familiarizado com essa forma de apresentação. A utilização de softwares médicos especializados na reconstrução tridimensional de estruturas anatômicas humanas pode ser aplicada para a reconstrução 3D da MAV, facilitando todo o processo de planejamento e diminuindo as chances da irradiação parcial de volume acontecer.

“Essa melhora traz menor área exposta à radiação com possível menor risco de danos. Acreditamos que a utilização do modelo 3D em radiocirurgia de malformação arteriovenosa cerebral é viável e mais uma ferramenta para auxílio no tratamento dessa doença tão desafiadora”.

A CPMH ressalta que aliar os conhecimentos dos engenheiros técnicos responsáveis pela reconstrução tridimensional – que é trabalhosíssima -,  os softwares médicos de alta precisão ao o extenso conhecimento do neurocirurgião Dr. Renato Campos foram passos essenciais para garantir a qualidade e acurácia do planejamento cirúrgico. Aplicar a tecnologia para incrementar a qualidade dos tratamentos e melhorar significativamente os resultados funcionais foi o grande foco de todos este projeto, somando esforços e expertises para criar história na neurocirurgia brasileira, e cuja prioridade é sempre o bem-estar do paciente!

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